Amin Stepple
A sala
do cinema ficou hoje ainda mais escura. Morreu Fernando Spencer, aos 87
anos, depois de enfrentar uma longa batalha contra a fumaça dos cigarros
que enevoou os seus pulmões ao longo de uma vida dedicada a uma grande
paixão: o cinema. Se os avôs do cinema pernambucano são os pioneiros do
cinema mudo Ary Severo e Jota Soares, Spencer é inquestionavelmente o
pai do moderno cinema realizado hoje em nosso estado.
Crítico de cinema durante quarenta anos, com coluna no Diario de Pernambuco e ainda programa semanal de cinema na televisão, a história da produção cinematográfica pernambucana se confunde com a história de vida de Fernando Spencer. É impossível dissociá-las.
Spencer talvez seja o único cineasta em todo o Nordeste que realizou filmes em todas as bitolas: 35 mm, 16mm, Super-8 e vídeo. Premiado várias vezes em festivais e mostras nacionais, coube a Spencer outra façanha: com determinação e entusiasmo, ele recuperou praticamente todos os filmes da fase silenciosa do Ciclo do Recife (1923-31), preservando a memória visual de uma das etapas fundamentais da cultura de Pernambuco. Não é pouca coisa. Pernambuco e o Brasil devem isso a ele.
Outro traço característico de Fernando Spencer: a generosidade. Ele sempre ajudou quem o procurava com o interesse de se iniciar no cinema, realizar algum filme, escrever alguma tese, fazer alguma pesquisa cinematográfica ou até mesmo trabalho escolar. Jamais fechou a porta ou se negou a atender. Pelo contrário, muitos do que hoje brilham nos jornais ou nos filmes comeram e dormiram na cada dele, sempre aberta aos que, como ele, tinham paixão pelo cinema.
Crítico de cinema durante quarenta anos, com coluna no Diario de Pernambuco e ainda programa semanal de cinema na televisão, a história da produção cinematográfica pernambucana se confunde com a história de vida de Fernando Spencer. É impossível dissociá-las.
Spencer talvez seja o único cineasta em todo o Nordeste que realizou filmes em todas as bitolas: 35 mm, 16mm, Super-8 e vídeo. Premiado várias vezes em festivais e mostras nacionais, coube a Spencer outra façanha: com determinação e entusiasmo, ele recuperou praticamente todos os filmes da fase silenciosa do Ciclo do Recife (1923-31), preservando a memória visual de uma das etapas fundamentais da cultura de Pernambuco. Não é pouca coisa. Pernambuco e o Brasil devem isso a ele.
Outro traço característico de Fernando Spencer: a generosidade. Ele sempre ajudou quem o procurava com o interesse de se iniciar no cinema, realizar algum filme, escrever alguma tese, fazer alguma pesquisa cinematográfica ou até mesmo trabalho escolar. Jamais fechou a porta ou se negou a atender. Pelo contrário, muitos do que hoje brilham nos jornais ou nos filmes comeram e dormiram na cada dele, sempre aberta aos que, como ele, tinham paixão pelo cinema.
Spencer
era um incentivador permanente. Um pai desprendido, sem preconceitos e
absolutamente jovial. Spencer era pop, gostava de tudo o que era arte,
independentemente da origem. Tive oportunidade de fazer um belo filme
com Spencer e também uma série de 25 capítulos para a televisão sobre o
cinema mudo pernambucano. Foi a pessoa de trato mais fácil com quem eu
trabalhei até agora. Quando eu era jovem e carbonário, andei polemizando
com Spencer pelos jornais. Questões rigorosamente cinematográficas,
nunca nada pessoal. Uma bobagem, da minha parte.
Mas Spencer tinha duas pastas. Uma, com artigos de pessoas que brigaram com ele ou fizeram alguma crítica negativa. Outra, só com textos de pessoas que o haviam elogiado, bem mais volumosa, logicamente. Eu repousava serenamente nas duas pastas: a do contra e a do a favor. O que, com o passar do tempo, se tornou motivo de riso entre nós dois.
Uma vez ele me disse que iria me tirar da pasta do contra, já que não se sentia à vontade que eu, como grande amigo dele, permanecesse lá. Não concordei. Quem ama o cinema sabe que ele é feito também de conflitos. Disse-lhe que me sentia bem nas duas pastas. Isso era cinema e como tal deveria ficar, inalterado.
Muitas vezes, quando ia a casa dele para visitá-lo ou mesmo a trabalho, ele me oferecia uns drinques. Uísque japonês. O consulado do Japão sempre mandava para ele, no final de ano, umas garrafas de uísque made in Japan. Spencer, que entendia de cigarro (colecionava maços de cigarro de todas as partes do mundo) e nada de bebida, servia, com orgulho e prazer, o uísque dos japas.
Hoje, dia em que o cinema voltou a ficar mudo, só resta aos seus amigos e admiradores, fazer um brinde a Spencer. Uísque japonês para todos. Obrigado, Spencer.
Mas Spencer tinha duas pastas. Uma, com artigos de pessoas que brigaram com ele ou fizeram alguma crítica negativa. Outra, só com textos de pessoas que o haviam elogiado, bem mais volumosa, logicamente. Eu repousava serenamente nas duas pastas: a do contra e a do a favor. O que, com o passar do tempo, se tornou motivo de riso entre nós dois.
Uma vez ele me disse que iria me tirar da pasta do contra, já que não se sentia à vontade que eu, como grande amigo dele, permanecesse lá. Não concordei. Quem ama o cinema sabe que ele é feito também de conflitos. Disse-lhe que me sentia bem nas duas pastas. Isso era cinema e como tal deveria ficar, inalterado.
Muitas vezes, quando ia a casa dele para visitá-lo ou mesmo a trabalho, ele me oferecia uns drinques. Uísque japonês. O consulado do Japão sempre mandava para ele, no final de ano, umas garrafas de uísque made in Japan. Spencer, que entendia de cigarro (colecionava maços de cigarro de todas as partes do mundo) e nada de bebida, servia, com orgulho e prazer, o uísque dos japas.
Hoje, dia em que o cinema voltou a ficar mudo, só resta aos seus amigos e admiradores, fazer um brinde a Spencer. Uísque japonês para todos. Obrigado, Spencer.
Postado Por: Soares
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