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Reféns do horário eleitoral gratuito Leia!


Sem acesso a internet, a jornais e a revistas, cidadãos de zona rural a 70km do Palácio do Planalto dependem do cardápio oficial para decidirem o voto, mas não gostam muito do que ouvem “Essa é a mulher do Lula?”, pergunta a dona de casa Djalva da Abadia Coutinho, 41 anos, ao escutar, pela primeira vez, a voz da candidata à Presidência da República pelo PT, Dilma Rousseff, no programa eleitoral gratuito no rádio.

A moradora de Sobradinho dos Melos, área rural a cerca de 70 quilômetros do Palácio do Planalto, integra uma fatia da população que não tem acesso a meios de comunicação, como revistas, jornais ou a rede mundial de computadores. Portanto, só passa a ter conhecimento das propostas dos candidatos com o início da propaganda política no rádio e na televisão. São apenas 45 dias — período em que os programas são exibidos — para que essas pessoas avaliem as opções e escolham, por exemplo, o próximo presidente do Brasil.

Desde a última terça, quando foram ao ar os primeiros programas eleitorais, Djalva faz questão de acompanhar as propostas. A dona de casa afirma que está mais atenta à importância de escolher um bom representante desde que uma desgraça ocorreu na família, há um mês. Em julho, o filho mais velho dela, Diego Braz Coutinho, 17 anos, morreu vítima de leucemia no Hospital de Base.

Djalva conta que faltavam remédios e que o filho não recebeu o tratamento adequado. Diego passou por três hospitais públicos e, desenganado, passou os últimos dias de vida tomando altas doses de morfina para aliviar as dores.

“É um sofrimento grande. Se a saúde no Brasil estivesse bem, meu filho não estaria embaixo da terra neste momento. Foram três hospitais públicos e nenhum conseguiu dar um tratamento decente ao Diego.

É por isso que quero escolher bem em quem votar e escuto com cuidado o que cada um dos políticos diz para saber quem vai merecer o meu voto”, ressalta Djalva, na sala simples da casa onde mora, ao lado do rádio, único meio de comunicação de que dispõe. A casa dela faz parte dos 5% da população brasileira que não possui televisão, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada em 2008 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Durante os 25 minutos de programa eleitoral no rádio, Djalva fez observações sobre quase todos os candidatos à Presidência. “Dizem que esse rapaz fez muitas coisas na saúde. Eu também sei que ele foi bem em São Paulo, mas no Brasil é diferente, né? O país é grande”, comenta, sobre o presidenciável tucano, José Serra. “Eu votei no Lula na última eleição. Mas não sei se essa Dilma é boa também. Não conheço ela bem”, completa sobre a petista. “Ela só fala de natureza, né?”, questiona sobre Marina Silva (PV).

Indecisos

A poucos metros da casa de Djalva, a dona de casa Magnólia de Araújo, 53 anos, reclama da interrupção do programa a que estava assistindo na televisão. Uma tela azul anuncia o início da propaganda eleitoral. “É chato, mas sei que preciso assistir. Até porque não sei direito ainda quem são os candidatos e não decidi em quem votar”, explica. Na pequena casa, além de Magnólia, vivem o marido, uma filha e dois netos.

A televisão e o aparelho de DVD são os luxos da família. De computador, só ouviu falar. Mesmo que tivesse, não usufruiria plenamente das maravilhas da internet. Ela não faz parte dos 24% dos domicílios brasileiros que têm acesso à internet em casa, segundo o PNAD do IBGE, e é semi-analfabeta. “Sei escrever meu nome e leio uma ou outra coisa”, conta.

Magnólia não se lembra em quem votou na última eleição presidencial, mas diz ter certeza de que não foi em Lula. Por isso, diz não confiar muito na “mulher que aparece com ele” em todos os programas. A dona de casa também reforça que nunca gostou de Fernando Henrique Cardoso porque passou por momentos difíceis durante a gestão tucana. “Eles são amigos”, avisa quando José Serra aparece na tela. A propaganda de Marina Silva passa tão rápida que a eleitora nem percebe. “Era outra candidata?”, pergunta. Sobre as produções televisivas dos outros presidenciáveis, Magnólia ri e ironiza: “Esses aí não têm muito dinheiro para fazer a propaganda, né?”.

Quando chega ao fim o programa, passaram-se 50 minutos. Magnólia também quis conhecer as propostas dos candidatos a uma vaga na Câmara, mas diz não ter se interessado por nenhum deles. Com ar entediado, arremata: “Os programas são todos iguais e a minha impressão é que todos eles prometem a mesma coisa. Está difícil escolher um”. O tempo urge e, agora, restam 42 dias para que Magnólia decida em quem votará no pleito de outubro.

O número
5%
Percentual de domicílios que não têm televisão em casa, de acordo com o IBGE Fonte: Correio Braziliense
Postado Por: Soares
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Este post foi escrito por: Soares

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